sexta-feira, 1 de abril de 2011

Boa ergonomia boa economia

A disciplina Ergonomia define-se como o desenvolvimento e a aplicação da tecnologia da interface humano-sistema. Essa tecnologia lida com as interfaces entre humanos e outros componentes de sistemas, tais como: hardware, software, ambientes, tarefas e estruturas organizacionais e de processos. Assim, ela inclui especificações, recomendações, métodos e ferramentas, objetivando melhorar a qualidade de vida, incluindo saúde, segurança, conforto, estabilidade e produtividade. A Ergonomia enquanto ciência estuda as capacidades humanas e limitações para desenvolver a tecnologia da interface humano-sistema. Profissionais reconheceram o enorme potencial desta disciplina para melhorar a saúde, segurança e conforto das pessoas, além da produtividade humana e do sistema.
Então, por que as organizações não procuram os profissionais de ergonomia para reduzir despesas e aumentar produtividade? Por que as agencias federais e estaduais não forçam a criação de legislações que garantam que os fatores ergonômicos sejam considerados no desenvolvimento de produtos para uso humano? Por que tanto associações industriais como membros do congresso enxergam a ergonomia como um adicional de despesas?
Ora, esses foram expostos a ergonomia ruim, na forma de produtos ou ambientes mal projetados feitos por pessoas incompetentes, que se passam por profissionais da ergonomia quando na verdade tiveram um treinamento deficiente e vendem seus serviços como panacéia. Outro pretexto, é dizer que todas as pessoas são operadores de sistemas, que estão constantemente “operando” veículos, computadores, telefones e outras máquinas e que por usarmos essas tecnologias somos indicados como instrumento de molde para que façam suas “ergonomias”, como se ergonomia fosse algo que empiricamente poderia ser adotado. E mais, faltam argumentos concretos, lógicos e reais capazes de justificar para as organizações que ergonomia não é simplesmente a coisa certa a ser feita, e sim um investimento que trará benefícios para as empresas. E por fim, os profissionais de ergonomia tem documentado de forma pobre e feito pouca propaganda da relação custo benefício da boa ergonomia – deve-se proclamar que a boa ergonomia também é boa economia.
Agora, ver-se-á exemplos de empresas de diversos setores da economia que implantaram a ergonomia em suas estruturas e puderam comprovar os benefícios que este trabalho feito com seriedade pode trazer. Uma industria de madeira projetou protetores de pernas para os trabalhadores, designados para a poda de árvores com machado e machadinha, de uma plantação de eucalipto. O resultado foi excelente, durante um ano não ocorreu nenhuma lesão na perna provocada pelos machados, resultando em conforto para os trabalhadores que se isentaram das dores e sofrimento, bem como uma economia para a companhia de $4 milhões de dólares anual.
Um outro exemplo foi de uma empresa de trator-trailler, que decidiu melhorar ergonomicamente o assento e a visibilidade de seus veículos. Com um investimento de $6900, chegou-se a uma economia de $65000 por ano, pois melhorou a visibilidade dos motoristas, além do conforto que propiciou para os mesmos. Uma fábrica de tubos de aço e sistemas de estoque conseguiu reduzir o nível de ruído e com isso aumentou a produção em 10%, além de diminuir a rejeição de 2,5% para 1%.
Tem-se também exemplos de projeto de produto ou redesign que podem provocar um forte impacto econômico no valor das ações da empresa, nas vendas, na produtividade, e ou redução de acidentes. Os controles remotos da Thompson é um exemplo revolucionário de redesign, pois, transformou os controles em produtos fáceis de manusear, com botões coloridos e afastados de diferentes formas para melhorar a identificação de cada função, sem se falar no encaixe que o design proporciona na mão. Outro produto que fez a diferença no trânsito foi a lâmpada de freio no vigia do carro, que reduziu em 50% as colisões na traseira e reduziu a severidade das colisões, para um investimento de $5 milhões  houve um retorno de $910 milhões em um ano. A faca de desossar aves reduziu as dores musculoesqueléticas dos membros superiores dos funcionários da fábrica que ao redesenhar uma faca conseguiu aumentar a produtividade e reduziu os problemas trabalhistas em $500.000. Percebe-se que quando se tem a boa vontade de procurar as melhorias dentro da organização, o investimento inicial torna-se insignificante quando comparado a economia e ao ganho a médio e longo prazo. Então, o melhor a se fazer é começar a implantar melhorias que proporcione um ambiente de trabalho favorável e confortável, pois já está provado: Boa ergonomia boa economia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Como andas fazendo teus julgamentos?


A regressão à média é uma hipótese de que o resultado futuro será igual ao resultado médio passado. Usemos o exemplo de uma rede de lojas que possui nove unidades e que no ano de 2000 faturaram 90.000.000, variando entre 8.000.000 a 12.000.000 cada loja. Há uma previsão de que 10% de aumento no faturamento total em 2002 seria uma boa estimativa passando então para 99.000.000 em faturamento total. Seria simples acrescentar a cada valor vendido individualmente em cada loja 10% e assim resolver o problema da estimativa, como por exemplo, a loja que vendeu 12.000.000 venderá 13.200.000, a que vendeu 8.000.000 venderá 8.800.000 e assim sucessivamente. Entretanto esta abordagem é falha. Devemos fazer a análise chamada correlação que vai desde a total independência (as vendas de 2000 não prevê as de 2002) até a perfeita correlação (as vendas de 2000 prevêem perfeitamente as vendas de 2002). A média do faturamento das nove lojas é de 11.000.000, logo a melhor previsão está entre 11.000.000 e 13.200.000 para a loja 1. Logo, devemos esperar que a estimativa ingênua de 13.200.000 regrida em direção à média geral de 11.000.000. Acredita-se que embora o conceito de regressão à média seja estatisticamente válido é contra-intuitivo. É então sugerido a heurística da representatividade que é responsável por esse viés sistemático do julgamento. Existe também a ignorância em relação aos casos extremos e menos extremos: quando uma situação acontece de forma muito favorável, imaginamos que não aconteça novamente, descartando as possibilidades. Isso não acontece muito nos casos menos extremos. Quando administradores ignoram a regressão média, seja por resultados não alcançados, justificam-se em desculpas e erroneamente poderão fazer falsas premissas em planos futuros, ocorrendo um looping do julgamento falho. Os indivíduos tendem a ignorar o fato de que eventos extremos tendem a regredir à média nas tentativas subseqüentes.
A falácia da conjunção é um erro de julgamento, comumente observado em situações de tomada de decisão, no qual a conjunção de dois eventos é avaliada como mais provável de ocorrer do que o menos provável de seus eventos constituintes. Na heurística da representatividade segundo a qual a pessoa faz julgamentos conforme o grau com que uma descrição específica corresponde a uma categoria mais ampla em suas mentes. Embora esta heurística preveja com exatidão como os indivíduos reagirão, ela também leva a uma distorção comum, sistemática, do julgamento humano – a falácia da conjunção. Como observamos no exemplo do viés 8 uma das mais simples e fundamentais leis da probabilidade é que um subconjunto, por exemplo, (ser uma caixa de banco e uma feminista) não pode ser mais provável do que um conjunto maior que inclua completamente o subconjunto, por exemplo, (ser uma caixa de banco). Uma simples análise estatística demonstra que uma conjunção (uma combinação de dois ou mais descritores) não pode ser mais provável do que um dos seus descritores. Os indivíduos julgam erradamente que as conjunções (dois eventos que ocorrem em conjunto) são mais prováveis do que um conjunto mais global de ocorrências do qual a conjunção é um subconjunto. Os cinco vieses da heurística da representatividade são: insensibilidade a índices básicos, insensibilidade ao tamanho da amostra, má interpretação da chance, regressão à média e falácia da conjunção. Todos eles ilustram as irracionalidades sistemáticas que podem ocorrer em nosso julgamento.


BAZERMAN, Max H. Processo decisório: para cursos de administração e economia. Trad. Arlete Simille Marques. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A microempresa e o desafio da profissionalização

No final do século XIX e início do século passado, iniciaram-se as fusões empresariais, as empresas multinacionalizaram-se, expandiram-se e se tornaram sociedades anônimas, emergiram com profissionalismo em suas tomadas de decisões. (ROESCH, 2005).
Em pleno século XXI as empresas tornaram-se gigantescas e poderosas, porém as empresas denominadas familiares passam por apuros. E a ameaça que os pequenos comércios estão sofrendo de serem engolidos pelos grandes comércios está assolando as empresas pequenas, pois as mesmas precisam de estratégias para sobreviver no mundo da competitividade.
Geralmente as pequenas empresas surgem da transição da informalidade para a formalidade. Ou seja, primeiramente elas operam no mercado informal com o trabalho de seus proprietários, geralmente parentes, e quando chega a hora de crescer estas já existem sem nunca haver desenvolvido um planejamento para a condução do negócio. E o negócio inicia-se com um crescimento desordenado, sem objetivos, sem metas, sem controle. Em alguns casos os proprietários se acham donos do dinheiro do caixa e adquirem bens com este dinheiro, que deveria estar capitalizando o negócio, ou muitas vezes faz dívidas pessoais com a credibilidade da empresa e se algo der errado, na primeira crise, esta empresa quebra.
O processo administrativo é composto por quatro atividades básicas, planejamento, organização, direção e controle, segundo Chiavenato (2000, p.193). Para que haja planejamento deve haver recursos e esses recursos podem ser físicos e materiais, financeiros, tecnológicos, humanos, intelectuais, enfim as empresas constituídas precisam de habilidade para lidar com os diversos recursos necessários para que estas possam operar no mercado.
A definição de Finanças por Gitman (2004, p.4) é: “a arte e a ciência da gestão do dinheiro”, logo os gestores devem ser artistas e cientistas da administração do dinheiro das empresas e conseguir desse modo confeccionar obras excelentes em seus patrimônios. E essas obras de arte têm sido muito bem formuladas em muitas empresas do mundo inteiro e isso tem dado um novo significado a forma como a economia mundial vem se transformando.
A gestão financeira ganha notável espaço dentro das organizações para avaliar e conduzir decisões das mais variadas possibilidades de investimento de capital, de capitação de recursos, de aumento de produtividade, de expansão, de novos investimentos, de maximização de riqueza de seus proprietários. E essas análises de investimentos são feitas através da avaliação de risco e retorno de ativos aplicados às decisões de investimento, que nada mais são do que conhecer a medida do risco do investimento ter ou não ter o retorno médio esperado.
É por esse motivo que as pequenas empresas precisam de profissionalizar sua gestão. Para que através da utilização eficiente das ferramentas administrativas, criem-se estratégias competitivas de forma que uma microempresa possa sobreviver no assombroso mundo dos negócios. Bem como, transformar um pequeno negócio numa empresa profissionalizada com racionalização das tomadas de decisão que deem suporte para um crescimento sustentável.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Raízes híbridas da sociedade brasileira

Portugal enfrenta o desafio de modificar seu estilo de negócio, trocando o rápido e fácil comercio mercantil para sua nova atividade econômica, a agricultura no solo brasiliense. Foi em 1532 que Portugal iniciou a colonização no Brasil trazendo consigo sua cultura econômico-social implantando a escravidão como forma de trabalho e unindo-se a mulher índia, dando assim, o primeiro passo para a miscigenação do recém nascido país.
Designa-se América tropical - uma sociedade agrária, escravocrata de exploração econômica, híbrida de índio e posteriormente de negro. Compondo-se assim de grandes famílias proprietárias e autônomas, índios e negros, representantes de’l Rei, filhos de padres, doutores e a própria Madre Igreja.
A contribuição da raça africana superando a raça européia dando uma predominância na vida sexual, na alimentação, na religião. O sangue negro correndo por grande parte da população brancarrona corrompendo a rigidez moral e doutrinária da Igreja medieval ao próprio caráter do povo. A Europa reinando sem governar.
O Patriota Ferraz de Macedo não encontrou firmeza no colonizador. O que encontrou foram hábitos, aspirações, interesses, índoles, vícios, virtudes variadíssimas e com origens diversas – étnicas e culturais. Verificaram-se nos portugueses as seguintes características desencontradas: a “genesia violenta” e o “gosto pelas anedotas de fundo erótico”, “o bril, a franqueza, a lealdade”, “a pouca iniciativa individual, “o patriotismo vibrante”, “a imprevidência”, “a inteligência”, “o fatalismo”, “a primorosa aptidão para imitar”.
Ao caráter português dá-se a idéia de “vago impreciso” e essa imprecisão é que permite ao português reunir dentro de si tantos contrastes impossíveis de se ajustarem no duro e anguloso castelhano, de um perfil mais definitivamente gótico e europeu. O caráter português é como um rio que vai correndo muito calmo e de repente se precipita em quedas d’água: daí passar do “fatalismo” à “rompantes de esforço heróico, da “docilidade” a “ímpetos de arrogância e crueldade”, da “indiferença” a “fugitivos entusiasmos”.
Ora alternância, ora equilíbrio, ora hostilidade compõe o misticismo luso-africano. Essas duas culturas sobressaíram-se através da influência que exerceram uma sobre as outras nas suas vidas, artes, economia, moral. E hoje temos uma cultura equilibrada sobre antagonismos devido à flexibilidade, indecisão, equilíbrio e desarmonias da época.
Por motivos econômicos e políticos os homens eram estimulados calculistamente a emprenhar mulheres, fazendo filhos para suprir a falta de capital-humano - não desprezando o instinto de macho da época.
Os guerreiros, administradores, técnicos, pessoas capacitadas eram transferidos politicamente da Ásia para a América, para Lisboa ou para a África conforme conveniência do momento.
Os colonizadores portugueses foram misturando-se gostosamente com negras e multiplicando-se em filhos mestiços. O que deu condição de se formar o tipo ideal de mulher para os portugueses: a moura-encantada, tipo delicioso de mulher morena e de olhos pretos, envoltas de misticismo sexual, que sempre estavam vestidas de vermelho, sempre penteando os cabelos ou banhando-se nos rios. Aí se iam os famintos colonizadores em busca de prazer e estas, por sua vez, por qualquer bugiganga ou caco de espelho estavam se entregando de perna abertas aos gulosos de mulher.
É certo, no entanto, que as morenas eram as preferidas dos portugueses pelo ao menos para o amor físico. A influência européia dava a preferência às mulheres loiras, mas isso era apenas para as classes mais altas. A realidade nacional era a seguinte: “Branca para casar, mulata para f...., negra para trabalhar”.
Nota-se uma aptidão dos portugueses de se aclimatarem em regiões tropicais. Venceram a adversidade do clima, que se torna exceção para os portugueses, que pela hibridização realizaram no Brasil obra verdadeira de colonização. O clima gera fortes influências na formação e desenvolvimento das sociedades, através de efeitos imediatos sobre o homem, sua relação com a produtividade agrícola, com fontes de nutrição e com os recursos de exploração econômica.
O homem europeu foi privado de sua lavoura tradicional regulada pelas quatro estações do ano e da cultura das plantas alimentare, a que estava habituado durante séculos, pois o clima irregular e sua relação com o solo daqui do Brasil foram desfavoráveis a tradicional lavoura européia. Chegando a haver mudanças radicais de alimentação, tais como: do Trigo para a mandioca.
Intencionava, o português, encontrar na América uma terra de vida fácil, porém encontrou uma terra dificílima para quem a quisesse organizar econômica e socialmente. Aqui encontrou homens em estado bruto. Não havia negociadores vestidos de seda, nem tampouco pisando em tapetes persas. Eram apenas morubixabas. Gente nua e à toa, quando não adornados de penas, que se alimentavam da caça e da pesca, e no máximo de mandioca por aqui cultivada. Essa falta de riqueza sistematizada é o que força a metrópole a se instalar e explorar a agricultura, nessa terra de civilização nenhuma.
Pioneiramente o colonizador português do Brasil mudou o foco de colonização unicamente extratora para formação de riqueza local, a colonização de plantação. Esse trabalho, óbvio, feito por mão-de-obra escrava. À partir desse ponto o colonizador aproxima-se mais do colonizado, pois do breve contato que se tinha passa-se para a sedimentarização do seu habitat. Os portugueses vendiam suas casas, suas propriedades em seu país de origem e imigravam com suas famílias para viverem em colônia nos trópicos. Como se tratava de agricultura essa colonização caracterizou-se pela predominância da família rural e semi-rural.
Essas famílias já vinham constituídas da metrópole ou se formavam aqui no Brasil da união de colonos com mulheres caboclas ou virgens órfãs ou mesmo mulheres à-toa.
Essa nova técnica dos colonizadores caracteriza-se em duas particularidades: primeiramente a utilização e desenvolvimento de riqueza vegetal, a agricultura, a sesmaria, a grande lavoura escravocrata. E em segundo lugar: o aproveitamento de mão-de-obra nativa, incluindo a mulher, que não só servia como instrumento de trabalho, mas também como ferramenta de procriação. O grande fator colonizador do Brasil é a aristocracia colonial que instala as fazendas, compra escravos, bois, ferramentas, o capital que desbrava o solo, essa foi a aristocracia mais poderosa da América.
Os colonizadores tiveram que descobrir qual melhor lugar para se sedimentar, de uma vez que os grandes rios eram traiçoeiros com os povos que às suas margens se ajuntavam. Não piedosamente quando se davam as enchentes desses grandes rios os mesmos arrastavam tudo que estivesse ao seu redor: fossem plantações, casas, gados e até pessoas sofriam a devastação que as caudalosas forças da água provocavam. Com esse quadro doloroso e destruído provocado involuntariamente pela natureza é que se percebe que se acampar ao redor dos rios menores com maior regularidade deve ser a verdadeira saída para uma habitação, pecuária, e lavoura próspera, e fluente de doçura equilibrada. 
O indivíduo de vida promiscua e de excessos de suas vidas sexuais são atraídos a virem ao Brasil por haver possibilidade de vida livre, solta no meio de mulheres nuas e aqui viverem por puro gosto de aventura e orgia. Esses machos em pleno vigor da juventude aventuram-se com mulheres gentias e dessas ardentes paixões só pode resultar em bons animais ainda que maus cristãos, ou mesmo, más pessoas.
Não podemos desprezar nem tampouco esquecer uma outra parcela da sociedade que também contribuiu para a formação de cultura e ideologia da sociedade brasileira que são os jesuítas. Estes foram responsáveis por trazer educação, moral e conhecimento cristão para uma sociedade ainda inconsistente e recém nascida com toda fragilidade orgânica.
É importante ressaltar que não houve nenhuma barreira de fronteiras para entrada de estrangeiros no Brasil. Todavia, era necessário que esses fossem declaradamente cristãos católicos, era essa a restrição. E somente cristãos católicos poderiam adquirir sesmarias.
Observava-se também a prática de certos frades irem a bordo de navios interrogando os imigrantes para saber se os mesmos eram ou não praticantes ou conhecedores do catolicismo. Não os importava se eram maus ou se causariam danos a sociedade, se eram doentes contaminados pelas pestes da época, o importante era a saúde religiosa e saber rezar o padre-nosso, a ave-maria, o creio-em-deus-padre e fazer o sinal da cruz.
Eles temiam fosse quebrada a fraternidade por eles executada em Portugal através da união dos católicos para “os inimigos políticos” – calvinistas e protestantes, não quebrarem ou enfraquecerem essa devida “fraternidade”.
O antagonismo econômico se reforça e adota degraus cada vez mais distantes quando através do cultivo da cana-de-açúcar os possuidores de maior capital dominam a agricultura e a indústria do açúcar, enquanto que os menos privilegiados de poder econômico tinham que levar a vida, espalhados pelos sertões, em busca de escravos ou criando gado por lá.
Durante os séculos XVI e XVII predominou no Brasil o cultivo de cana-de-açúcar precedido pelo ouro e posteriormente pelo cultivo de café, não obstante, usou-se a mesma ferramenta braçal, o escravo africano. Neste momento há uma mudança no eixo da economia, antes predominantemente nordestina, enraizando-se para outras regiões, tais como as Minas Gerais - com as extrações do ouro, e São Paulo - com o cultivo do café.
O regime alimentar do brasileiro nos primórdios e por muito tempo da colonização foi muito pobre, deficiente e instável o que provocou uma grande disparidade no desenvolvimento físico e psíquico entre europeu e brasileiro. Faltava trigo, ovos, leite, legumes e carne fresca, elementos básicos para uma alimentação saudável.
As condições físicas e químicas do solo e as condições climáticas foram desfavoráveis ao cultivo espontâneo da vegetação alimentar, é certo observar que cada região é propícia para determinado tipo de cultura e os fatores climáticos brasileiros não propiciaram essa cultura.
É importante salientar que a influência sócio-econômica da monocultura enfatizou a falta de esforço por busca de novas técnicas que pudessem propiciar a cultura de mais fontes de nutrição.
Os privilegiados por uma melhor alimentação foram os brancos das casas-grandes e os negros das senzalas. Ou seja, os poderosos ricos aristocratas e os desbravadores dos campos, os escravos, que através de seu trabalho sustentava-se toda a riqueza da colônia. É por esse motivo que no Brasil na atualidade percebe-se o destaque dos negros em competições atléticas, entre outros. As camadas mais desfavorecidas da sociedade foram todo o restante, a metade da população: a grande massa livre que não era escravo, mas também não era cidadão.
De Portugal procedia a grande parte dos alimentos que eram trazidos sem condições adequadas de mantimentos e armazenamento, o que não garantia a qualidade dos mesmos. Chegando aqui depreciados de seus princípios nutritivos, em sua maioria: carne, cereais, frutos secos.
Houve tamanha escassez de farinha no século XVIII que o Conde de Nassau tomou a providência de incluir uma clausula nos contratos das capitanias obrigando os proprietários a plantarem “mil covas de mandioca por cada escravo que possuísse empregado na cultura da terra”.
Embora toda essa escassez na mesa de ricos e pobres, escravos e nobres, não faltava para ricos e nobres, peças importadas e caras de bom gosto e luxo. Esses eram dotados de extrema vaidade possuindo produtos supérfluos para alimentar os seus egos, viviam com a barriga roncando e endividamento rolando. Filhas e esposas de alguns tinham vestidos adornados, esses apenas para ir à igreja, enquanto que em casa vestiam-se de cabeção, saia de baixo e chinelos sem meia.
Tratar de miscigenação brasileira remete-se a tratar de sifilização, doença muito conhecida no principio de colonização. Essa é incorporada às taras étnicas entre índias e colonizador.
A sífilis não foi a única característica negativa da relação sexual do conquistador europeu com a índia. Caracterizou-se também como evento sexual o sadomasoquismo, que se convencionou o sadismo do branco, e o masoquismo da índia.
Em suma, temos nas linhas acima, a origem do que somos hoje. Esses foram nossos antecessores. Fora dessa forma de ser, que fomos gerados. E o estado que mais sofre as marcas desta descrição tão voluptuosa, que Gilberto Freire faz, é o nosso Pernambuco. Por isso, percebemos tanto apresso pela baixaria, pelas palavras de baixo calão, pelas músicas de letras ruidosas e desprovidas de reverência, por programas de televisão fúteis, por conversas fúteis, por fofocas famigeradas.
Quando leio Gilberto Freire sinto vergonha desse passado sem conserto e que nos fomentou herança tão desgraçada. Fico analisando-me e analisando os meus semelhantes - onde nossos atos, do presente, nos coadunam com esta infâmia do passado?
Iniciei mais uma vez a leitura de Casa-grande & senzala, do tão bom relator, Gilberto Freire. Poeta forte em suas palavras e minucioso em sua observação, que nos faz entrar na intimidade do europeu colonizador, do índio colonizado, dos negros traficados, das brancas européias, dos senhores de engenho, da casa-grande, da senzala.

FREIRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51. ed. rev. São Paulo: Global, 2006.

domingo, 17 de outubro de 2010

Parabéns, professor!!!


Hoje, comemora-se o dia daqueles e daquelas que contribuem para inserção dos discípulos ao mundo das letras, ao mundo do conhecimento, do aprendizado, da inspiração, do crescimento, do querer ser. Por isso, faço uso das minhas singelas palavras para congratular todos os professores da minha trajetória. Dizer para cada um da importância de um dia ter sido inspirada por vossas excelências a buscar o conhecimento, a honra de tê-los como vereda para o aprendizado. Devo toda minha melhoria, minha polidez, minha base crítica, meu lastro de opinião a vocês!
Vocês são os verdadeiros eruditos da pós-modernidade, são os verdadeiros formadores de opinião que abre o caminho da discussão em busca da verdade, da justiça, da formação, do mais, do melhor.
Em uma época: Tia (o), mestre, outra época: professor, e até educador, num tempo não tão longínquo: facilitador, e atualmente denominado: animador de processo. Seja qual for a época, a denominação, todos são excelentes, maravilhosos, amáveis e respeitáveis professores.
Eu amo todos vocês!!!
Obrigada pela divisão do que vocês tem de melhor!!!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Marina Silva: um exemplo de coragem, garra e determinação

Estamos às vésperas de mais uma eleição presidencial. Estamos assistindo, o que quase não se discute, já que as disparidades de preferência a determinada candidata do PT não dá nem motivação para se gerar embates com as propostas ou ideologias dos candidatos. Não me bastasse deixar meu irmão no aeroporto, em primeiro de setembro, ao entrar na livraria me esbarrei com o livro da Marina, que com aquele olhar honesto para mim, cativou-me a ler sua história. Com muito entusiasmo li o livro em sete dias, e o entusiasmo crescia a cada página que virava.
Li esta grandiosa biografia que retrata a vida de uma guerreira, de uma mulher que fez história e que continua fazendo. Somente votar nela seria muito simplista, somente garantir-lhe mais um voto no dia três de outubro não me satisfaz. Embora já tenha conquistado outros votos para ela depois que comecei a dividir a história com outras pessoas de minha família, sinto-me convocada a escrever um resumo da trajetória desta mulher que por si só, já é história. E, pra não ficar só entre meus parentes, resolvi então divulgar na internet com o intuito de que o Brasil e o mundo conheçam esta preparadíssima presidenciável, Marina Silva.
Nascida na floresta amazônica no extremo oeste do Brasil, mais precisamente no Seringal Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco no Acre, em 8 de fevereiro de 1958, Maria Osmarina da Silva não sabia o que lhe reservava o futuro. Filha do Sr. Pedro Augusto da Silva e da Sra. Maria Augusta, seringueiros daquela região, viviam em condições de extrema pobreza e do infortúnio da Malária. Muitas eram as dificuldades daquela família de 7 irmãos, e muito cedo, órfãos de mãe. Mas em meio à dificuldade, a pequena Osmarina gostava das poesias e dos contos de seus avós e tios, e passava muito tempo ouvindo a sabedoria daqueles que já tinham a experiência da maturidade. E foi já nesta época de tanta escassez e trabalho duro que Marina descobriu a poesia e a arte, aprendendo a confeccionar cestos, balaios e os colares que fabrica e usa até hoje.
Sofrendo fortemente com doenças sem diagnóstico, aos 16 anos, Marina pediu ao Sr. Pedro para morar na cidade, desta forma poderia se tratar e estudar. Após ser vitimada por 5 malárias, desta vez sofria de hepatite. O Sr. Pedro ultrapassou as resistências de algumas pessoas da família e permitiu que a filha se mudasse para a capital.
De coração partido, mas certa de que se não fosse à busca de tratamento morreria. Marina aguarda o ônibus que passava duas vezes por semana para levar os seringueiros para Rio Branco, era setembro de 1975. Com vontade enorme de chorar, mas com receio que fosse acusada de estar fugindo ou sendo expulsa de casa, decidiu engolir o choro para salvaguardar o nome de seu pai, pois naquele coletivo alguém poderia ver a sua tristeza e assim presumir. Naquele trajeto três objetivos preenchiam a mente daquela moça: curar-se das doenças que lhe acometiam, aprender a ler e ir para o convento.   
Hospedou-se na casa de sua tia a Maria Bita. Após alguns dias de sua chegada Marina foi para sua primeira consulta, e o médico não foi muito generoso: “Eh, Maria Bita, só agora você me traz essa daí? Essa daí já está com a alma no inferno há muito tempo”. Gostaria que este médico estivesse vivo até hoje, pra votar em Marina. Mas Marina desde criança aprendeu com sua avó a fé em Deus e dizia consigo mesma: “Ele está dizendo isso, mas Deus não vai deixar acontecer”. Com o remédio receitado e a mudança da dieta Marina foi melhorando aos poucos. O diagnóstico de morte deste médico fora apenas o primeiro de três que receberia em sua vida.
Trabalhou seis meses como empregada doméstica. Inscreveu-se no curso do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) programa de alfabetização para adultos do governo Federal da época. E rapidamente fora alfabetizada e já foi salteando as etapas. Em três meses surpreendentemente Marina já havia concluído o curso primário. Iniciou a primeira série do ginásio em 1976, ano que também entrou no postulado à freira. No ano seguinte inscreveu-se no do supletivo do primeiro grau e foi aprovada em todas as matérias.
Paralelo a vida de Marina na rotina do convento com seus afazeres domésticos, na rega das plantas e jardins, além do estudo acentuado, uma grande revolução acontecia no cenário florestal que Marina havia deixado no seringal. Os governantes vendiam as terras acreanas a preço de banana para que os pecuaristas do sudeste as devastassem e criassem seus rebanhos de gado. Uma destruição em massa acontecia nesse momento da história, centenas de seringueiros eram assassinados a sangue frio, as árvores iam ao chão sem dó, milhares de pessoas foram expulsas e migraram para outras regiões e países vizinhos.
Nesta época Marina lastreava seus primeiros conceitos políticos nos ensinos dos religiosos católicos, por exemplo, o arcebispo Moacyr, que nesse período contribuíra bastante para as lutas em favor da floresta e dos acometidos pela miséria e malária. Começou então a participar dos trabalhos nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). E Marina foi moldando sua postura política nas teorias do dom Moacyr, inicialmente, e posteriormente nas de Chico Mendes e os profetas da Teologia da Libertação composta pelos irmãos Clodovis e Leonardo Boff. Neste momento passou a entender melhor o que significava ser comunista.
A participação de Marina num curso sobre fé e política ministrado por Clodovis Boff e por Chico Mendes fizeram-na mudar seu desejo de torna-se freira e percebeu que não tinha vocação para o pacato mundo do convento. Havia látex em suas veias, preferiu entrar na luta sangrenta de defender as árvores da floresta, luta de classes e redemocratização da política brasileira. Sua vontade de mudar o cenário de desigualdade e dor beirava a utopia em 1977 quando decide deixar o convento. E a partir de sua saída do convento envolveu-se ainda mais nas lutas políticas, passando a visitar Xapuri onde Chico Mendes liderava o sindicato, além de participar de diversos movimentos estudantis na faculdade. Em 1979 entra pra um grupo de teatro que serviu de ponte entre o universo religioso e o político-partidário. Neste momento, este grupo combatia a ditadura militar.
Os fundadores do PT no Acre foram Marina e sua turma: Júlia, Abrahim Farhat, Nilson Mourão e João Maia. O Partido dos Trabalhadores nascera forte no Acre contando com o apóio da Igreja Católica através das Comunidades Eclesiais de Base, sindicatos de trabalhadores, um grupo de intelectuais de esquerda e uma turma muito barulhenta de estudantes universitários. 
“Macaca, tu passou! Acorda, Macaca!”. (Apelido que Marina ganhou ao fazer o papel de uma macaca no teatro, e que seus colegas assim a chamavam, carinhosamente). Estas foram as palavras de Alberto Rocha, seu amigo, que viera dar-lhe a excelente notícia de que havia logrado êxito no vestibular da Universidade Federal do Acre, para o curso de História em 1980. No ano seguinte Marina casa-se com seu primeiro marido, o Raimundo, com quem tem dois filhos, a Shalon e o Danilo, relacionamento que durou apenas cinco anos.
Não obstante, a influência de dom Moacyr Grecchi, a trajetória junto ao Chico e os ensinamentos marxistas abriram as fronteiras para Marina atuar incisivamente no interior do Acre numa missão de empates (movimentos que os seringueiros faziam a fim de impedir o corte das árvores) para resistir às ocupações dos latifundiários. Nesses empates, Marina e seus companheiros, abraçavam as arvores para evitar que os pilotos de motosserras as cortassem. Eram verdadeiras guerras de proteção a natureza, isso é encantador! Isso é lindo!!! Abraçar-se com árvores a fim de salvá-las! E muitas pessoas foram mortas nesses atos de protesto, centenas.
Inicia-se oficialmente em 1984 a vida política de Marina quando ela e Chico Mendes fundaram, em Rio Branco, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Estado. Ele era o coordenador e ela, a vice.  E as lutas só aumentavam com a manifestação das Diretas Já, o povo clamava por eleições diretas para Presidência da República.
Em 1986 candidata-se à deputada federal para auxiliar Chico Mendes em sua disputa a deputado estadual, ambos perderam, o partido não conseguiu quociente eleitoral necessário, apesar de ela ter sido a quinta mais votada do Estado. Em 1988 Marina candidata-se a vereadora e ganha as eleições com mais de 2.500 votos, a vereadora proporcionalmente mais votada do país. Sua campanha fora traçada em cima do discurso, da conscientização do povo, mostrando-lhes que a obrigação dos políticos sobrepujava a doação de dentaduras e óculos. Ela fazia suas campanhas nos pontos de ônibus, nas praças, em qualquer lugar onde houvesse aglomerado de pessoas. Seu discurso era tão bom de ouvir que as pessoas perdiam o ônibus para ouvi-la. E assim, o resultado do corpo a corpo fora seu mandato na Câmara Municipal de Vereadores de Rio Branco. A vitória foi amargada por uma posterior derrota: a covarde morte de Chico Mendes, passado um mês após as eleições.
Somente na vigência do mandato de Marina algumas revelações vieram à tona para a população do Acre, como por exemplo, o salário do vereador. Em entrevista uma repórter perguntou a Marina quanto ganhava um vereador. Ela simplesmente pegou o contracheque e pediu para que a própria jornalista somasse a lista de benefícios ali descriminados. Marina autorizou a cópia deste contracheque que fora o marco de uma confusão e em seguida passou a devolver os benefícios não justificados e a fazer campanha pública contra esses benefícios, além de entrar na justiça para que os outros vereadores também devolvessem. Isso causou uma enorme antipatia da maioria dos colegas, enquanto sua popularidade só crescia junto ao povo.
Em sua atuação como vereadora criou estratégias para não haver rejeição da parte dos demais legisladores em aprovar suas idéias. Marina continuou a combater as corrupções da Câmara, publicar assuntos importantes, incentivar a transparência na gestão e a lutar pelos projetos populares. Foi nesse período também que se casou novamente com seu atual esposo o Fábio Vaz e teve sua terceira filha, a Moara. Sua trajetória como vereadora durou pouco, pois na eleição seguinte Marina saiu candidata a deputada estadual, e na oportunidade foi a mais votada do Acre.
Quando eleita deputada, Marina caiu novamente em uma grande crise de saúde que resultou em seu afastamento por muitos meses da Assembléia Legislativa do Estado. Durante esta crise ainda ficou grávida de sua quarta e última filha Mayara. Mas não foi desta vez que os médicos acertaram com seus diagnósticos de morte, e Marina resistiu e retomou suas atividades.
Em 2002 candidatou-se ao senado e venceu surpreendentemente às eleições. Desta vez ao lado do presidente Lula. Tudo era novo para Marina que agora teve de ajuntar as malas e partir para Brasília. Conviver com um cenário totalmente novo e estranho às suas origens. Respeitosamente, a seringueira, a “macaca” negra, magra, mulher, doente chega ao Distrito Federal! Que vitória! Que maravilha!! A mais nova senadora eleita da República Federativa do Brasil, com 37anos, sobe à tribuna para seu discurso de posse. Uma das frases mais bonitas da senadora em seu discurso de posse proveniente de um livro de Anthony Robbins: “(“A boa madeira não cresce em sossego; quanto mais fortes são os ventos, mais resistentes são as árvores”). Aprendi com as árvores resistentes da Amazônia que devemos ter persistência, e que, por mais que não haja sossego, temos de solidificar, com raízes profundas, os ideais em que acreditamos.”
A conversão de Marina ao evangelho do Senhor Jesus Cristo deu-se em Brasília, quando um médico indicou um pastor que fez orações pela saúde de Marina. Após falar com o reverendo André Salles por telefone recebeu uma revelação divina sobre outro assunto que nada tinha haver com a saúde dela e aí brotou nela uma curiosidade, pois aquele homem que não sabia quem ela era, falou coisas profundas demais para ser mentira ou invenção. No dia seguinte marcou um encontro e foi vê-lo pessoalmente, lá oraram e leram a Bíblia juntos e Marina aceitou Jesus como seu único e suficiente salvador, àquele que primeiro lhe curou as feridas da alma. Mas durante as orações, tempos depois, em um culto Deus revelou para a própria Marina o remédio para lhe tratar contra as intoxicações de seu sangue. E ela fez o tratamento e ficou completamente curada. Benção que agradece sobremaneira a Deus. Óbvio, como qualquer bom novo convertido sofreu muitas rejeições e críticas, mas aos poucos a família aceitou e hoje todos são evangélicos também, além de alguns funcionários e companheiros. Isso só Deus faz!
Estrategicamente Luis Inácio Lula da Silva, então presidente eleito, anunciou ao presidente George W. Bush, em visita a Washington, que a ambientalista internacional Marina Silva seria sua nova ministra do Meio Ambiente. Marina fora abordada por repórteres, mas ainda não sabia da notícia oficialmente e preferiu não comentar nada. Tomou posse de seu cargo como ministra do Meio Ambiente muito entusiasmada com a contribuição que daria a preservação das riquezas naturais do Brasil, principalmente na defesa da floresta amazônica. Muitos projetos foram lançados, muito foi feito, mas muitas críticas e perseguições foram feitas também. Já que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não reservara espaço para a conservação do meio ambiente e muito menos tempo para trâmites e adaptações necessárias para tornar os projetos viáveis no que tange a conservação do meio ambiente. Os demais ministérios que tem correlação com o ministério do Meio Ambiente também não colaboraram a contento e Marina começou a perder o ânimo de continuar nesse ambiente conflituoso e embargado.
Marginalizada pelo presidente que ela lutou pra elegê-lo, aquele que fora seu companheiro de lutas por mais de trinta anos. Aquele que defendia o interesse da maioria perdeu o rumo da causa, entregou os pontos, e afogado no poder esqueceu porque começou a lutar. E assim, marginalizada na sua posição de Ministra do Meio Ambiente, Marina entende que seu ministério sucumbiu. A verdade passou a dar espaço à mentira, a luta passou a dar espaço à rendição, a necessidade passou a dar lugar ao interesse, o maior passou a ser mais importante do que o menor, a minoria venceu a maioria. Bonito ato! Renunciou porque não se igualou, porque não se corrompeu, porque não abriu mão da causa! Seu último ato fora tão nobre quanto todos os outros ao longo destes anos todos, parabéns Marina!!! Com sua renúncia quem perdeu foi a Amazônia, os rios, os mares, a fauna, o pantanal, os índios, nossos descendentes; quem perdeu foi o Brasil enquanto nação, quem perdeu foram os brasileiros de coração!
Marina, não pense que foi derrotada. Sua renúncia foi leal. Leal à causa que destes a vida por ela. Leal à causa que Chico Mendes deu a vida por ela. Leal à causa de todos os acreanos que votaram em ti desde 1986. Leal à causa das CEBs. Marina, tens história, não permitistes ser comprada pela causa dos abastados!
É importante salientar que não existe crescimento sustentável quando não há sustentabilidade. Bom, talvez Lula não entenda bem o que quer dizer essa frase. Porque até parece que é tudo igual, mas é diferente. É impossível sermos o Brasil que somos hoje, daqui a 30 anos quando a Amazônia não for mais a mesma, quando os rios não forem mais os mesmos, quando a fauna não for a mais a mesma, quando acabarem, consumirem, devorarem tudo que temos. Iremos recorrer a quem? Sabe-se que a Amazônia é um patrimônio mundial, não é só dos brasileiros, e ai dos governantes que não cuidarem bem dela, pois os países ricos por aí, estão de olho nela. Ela é a menina dos olhos de muita gente por aí, além de uma grande dádiva que Deus nos deu e que não sabemos nem agradecer e nem conservar. É burrice manifesta achar que plantando soja na Amazônia iremos ter vantagem frente a outros países só pra sustentar a ganância de ser o maior exportador de soja do mundo, já que os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar e o Brasil quer tomá-lo. Grande título ser o maior exportador de soja do mundo! É muito melhor dar educação ao povo e dizer assim: Maior exportador de capacidades humanas do mundo, QI, tecnologia da informação, recursos humanos capacitados, isso sim é bonito, isso sim é rico. Pois, commodities é muito fácil de produzir, difícil é produzir gente capacitada, isso sim é sustentabilidade. Vamos parar de ser gananciosos, pois tem países que pagam água a preço de ouro e porque não valorizamos nossos rios, para que no futuro isso não aconteça conosco também? E porque não conservamos nossas riquezas pra um dia podermos vender limitadamente a preço de ouro para o mundo? Estamos diferentes de 500 anos atrás quando só se explorava e explorava nossas riquezas para exportá-las?
O convite surgiu e foi aceito em boa hora. O PT deixou de ser esquerda e passou a ser direita torta. E já não combina mais com os ideais de Marina Silva, a filha da floresta. Em boa hora o Partido Verde (PV) a convidou para ser aquela que defende o VERDE do Brasil. “Tarde vos amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde vos amei, é que estáveis dentro em mim, e eu estava fora de mim”. Palavras de Santo Agostinho que Marina usou na cerimônia de posse do Partido Verde. A ruptura, a nova história, o recomeço. BRASIL, URGENTE, MARINA PRESIDENTE!

CESAR, Marília de Camargo. Marina: a vida por uma causa. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.

Se quiseres sentir o cheiro da floresta amazônica, se queres atravessar as lutas políticas que o Brasil enfrentou no final do século passado, se queres sofrer com Marina as dificuldades de seu passado, compras este livro e lê. Esta sim é uma biografia enriquecedora de alguém que é simples e grandiosa.
Neste ano vamos fazer diferente, vamos dar uma chance ao verde, não importa se ela não está disparada nas pesquisas, o que importa é nossa consciência de votar naquela que tem história, que acreditamos ser a melhor para o Brasil: Marina Silva 43.

sábado, 11 de setembro de 2010

Poema de Marina Silva


Do arco que empurra a flexa
quero a força que dispara;
da flexa que penetra o alvo
quero a mira que o acerta.

Do alvo mirado
quero o que se fez desejado;
do desejo que busca o alvo
quero o amor por razão.

Só assim não terei armas,
só assim não farei guerras,
e assim fará sentido
meu passar por esta terra.

Sou o arco, sou a flexa;
sou o todo em metades;
sou as partes que se mesclam
nos propósitos e nas vontades.

Sou o arco por primeiro;
sou a flexa por segundo;
sou a flexa por primeiro;
sou o arco por segundo.

Buscai o melhor de mim
e terás o melhor de mim,
darei o melhor de mim
onde precisar o mundo.